quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Alienação (?)

Agora:
a fome come com voracidade o vigor de milhares o suor escorre e corre das faces de um político qualquer prestes a ser preso por inúmeras "improbidades administrativas" outro grupo festeja um conluio secreto e sombrio que saqueia os cofres públicos a guerra passeia displicentemente pelos cantos do mundo novas armas são criadas testadas efetivadas vendidas doenças "surgem" por intermédio divino da grande indústria farmaceutica homens planejam a conquista do espaço vasto o universo ainda perturba por ser uma incógnita os fanáticos religiosos se autoexplodem por deuses jamais conhecidos inexistentes suicidas atiram-se de pontes prédios trilhos já não suportando a descoberta de múltiplas sufocantes realidades que nos são impostas toneladas de lixo e fumaça química são atiradas na lixeira caída ao chão dos céus e sorvidas em pequenas doses diárias por nossos pulmões de ferro árvores e animais e homens entram em extinção genocídios dizimam índios negros palestinos mendigos idosos o dinheiro compra honestidades cumplicidades lealdades vidas e mortes e tudo isso passa a ser natural e prende-se com viscosidade pegajosa nas teias das rotinas do nosso dia a dia nos fazendo coniventes passíveis apáticos pacíficos a consciência procura alienação 
Aqui e agora:
a mente abstém-se de tudo (?)
garimpando rios de linguagem
atrás de palavras (certas?)
e as incrusta neste inútil poema.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Olhando o mar

Da areia
olhávamos o mar
e a hipnótica formação
das incessantes ondas
sob a eterna noite -
que soprava um hálito
suave e úmido
em nossos rostos.

Agora navegávamos.
Em nós mesmos.
Envolvidos pela sinfonia
interminável
do marulhento deus-Mar.

(ela abrigada em si mesma
e eu encerrado em mim
e cada vez mais longe e profundo
navegávamos em nós)

Tempestades... e colossais ondas
arremetiam contra a f-r-a-g-i-l-i-d-a-d-e dos barcos
Vent
os furio... sos
os
açoit... avam
Re
    lâm
         pa
    gos
e
TRO... VÕES! castigavam-nos...
O mundo parecia não nos querer

E então naufragamos
no bravio mar-Interior -
profundo e violento de medo.
A força das ondas nos atirou
de volta à Praia.
Éramos embarcações salva-vidas um do outro:
Nossos olhos: faróis
Nossos abraços: âncoras
E nossos beijos: AR.

E dentro daquela noite
sobre a areia beijada pelas águas
nasceu um sol
à beira-mar.

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Primeiro beijo

Se eu pudesse
eu ficaria ali
parado
e perdido
no tempo

Aquele tempo infinito
em minutos e segundos
envolvendo nossos lábios
e nossos olhos
e nossos corpos

Eu ficaria por ali mesmo
embalado por nossos corações
(tum, tum tum, tum, tum tum...)
perdido num sentir macio
e úmido da sua boca

E exigiria a suspensão de tudo:
Que tudo pare!
E que só nós existamos
E que o mundo sejamos nós
E que nele pairemos nos ares
Impulsionados pelo nosso eterno
E primeiro beijo.

Criando imagens em meio à tempestade

a umidade desprendia-se de um céu tingido de noite
mãos invisíveis riscavam
de maneira aleatória e com giz prateado
a negra lousa noturna
explosões balançavam-na
enquanto um forte vento
varria violentamente o chão encharcado da Terra

um céu líquido desabava em gotas frias
que desfiguravam meu rosto 
e as árvores 
e as coisas todas do Mundo
enquanto flashes fotográficos registravam
em fotografias preto e branco
imagens de desespero
dentro da tempestade.

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

A força expressiva de Watchmen



Após quatrocentas páginas, terminei a leitura da obra máxima (?) de Alan Moore e Dave Gibbons: Watchmen (1986/1987). Há, ainda, umas dezenas de folhas com extras que umas duas horas resolverão. Enquanto lia, ainda sob o peso do forte impacto do roteiro de Lição de anatomia, também de Moore, fui anotando algumas coisas a respeito da história - pois sabia que me sentiria obrigado a registrar por escrito minhas impressões sobre algo tão singular no universo da arte sequencial.
             
A primeira qualidade perceptível já a partir das primeiras páginas do gibi é a riqueza do roteiro. Este é escrito e disposto de maneira detalhada, intrincada, cuidadosa. Não há pontas soltas; tudo é perfeitamente amarrado e perturbadoramente profundo. Nada, na trama, é superficial. Muito pelo contrário: com o avançar das edições, o nível de profundidade só aumenta, nos impelindo, forçosamente, à reflexão.
                            
Em Watchmen há algo, genuinamente, sem igual. O que ora parece uma história panorâmica do tão conturbado século XX mostra-se, ainda, maior. Explora o conceito de heroísmo e super-heroísmo, bem como a ascensão do gênero nos quadrinhos nas décadas de 30 e 40, a paranoia do fenômeno UFO - alimentada com a divulgação de A guerra dos mundos, de Orson Wells -, o cinzento pós-guerra e suas consequências: a questão do Vietnã, os mandos e desmandos políticos das potências mundiais (em especial, a dos EUA) e, principalmente, o medo ante a iminência de um conflito nuclear apocalíptico, resultante da Guerra Fria.
                
Ainda permeando a trama com fatos do século XX, Alan Moore espalha mais algumas importantes referências, tais como: literatura Beat, as experiências alucinógenas de expansão da mente por meio de algumas drogas, a valorização das culturas orientais, o avanço desenfreado (e inconsequente!) da tecnologia, o avanço do capitalismo e a sua hegemonia com a globalização. Enquanto o (frio) Dr. Manhattan simboliza a descoberta, o uso e o poder nuclear, Adrian Veidt representa o inescrupuloso e poderoso mercado. É nestes dois personagens que está o núcleo, o centro da HQ.
                
Watchmen nos apresenta uma realidade distópica, onde a loucura e a paranoia com o fim do mundo coexistem com a esperança de um futuro de paz. Uma paz imposta com autoritarismo e com as “maravilhas” que os mercados podem oferecer. E por isso mesmo há uma aura nostálgica envolvendo a narrativa. Uma nostalgia de quando se acreditava que o mundo não era tão complicado.
                
A guerra, a sordidez política, o comodismo e o distanciamento entre os homens, a bipolarização do mundo, a desigualdade social são o pano de fundo onde circulam pessoas feridas pelos anos e pelas condições impostas pela vida. E quando pensamos haver alguma esperança, algum resto de sensibilidade dos poderosos, somos surpreendidos com o apocalipse.
                
Deus, um ser híbrido constituído de megalomania, beligerância atômica e “princípios” mercadológicos nos condena a um “paraíso”. Nos ofusca com o brilho de uma paz fabricada e nos afoga no comodismo de um universo globalizado e politicamente correto. Nos lança, paradoxalmente, nas trevas luminosas de um mundo “pacificado”

..................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................... Mas Watchmen é muito mais que isso. É de uma profundidade sem igual. E eu poderia ainda tentar falar do por que ser o centro de tudo um simples jornaleiro, seus clientes e sua banca de jornal. Ou mesmo tentar discutir a "loucura" e as sequelas proféticas de Rorschach. Ou mesmo a sensibilidade e fúria de Laurie. Ou a metáfora viva da comédia humana: o Comediante. Ou... a relação do mundo presente, e seus personagens, com a narrativa pulp que engendra a trama...

O roteirista parece ter um segredo. Um segredo indispensável a qualquer um que queira trilhar estes caminhos: escreve com a obrigação de tentar conceber a melhor obra artística já criada pelo homem. É exigente além dos limites consigo mesmo, tem uma obrigação social, estética, moral e política na realização de algo inconcebível. E, por isso mesmo, sua criação não pode ser adjetivada por outras palavras que não sejam extraordinária, fantástica e genial.
               
Enfim, a obra é vasta - em política, filosofia, história, literatura, psicologia etc. - é atemporal - embora dependente daquele contexto histórico específico - e tudo o que aqui fora dito não representa muita coisa não. Mas parece ser a ponta desse grandioso e interessante iceberg.


P. S.: Interessante como a questão da força criadora da mente humana está presente tanto em Lição de anatomia - já que é ela que dá vida ao Monstro do Pântano - quanto em Watchmen e no acidente que garantiu o poder atômico do Dr. Manhattan. O poder de conceber tudo por meio do pensamento do homem deve ser uma ideia fixa em Alan Moore. 

P. S. 2: No capítulo "Relojoeiro", construído sob a temática do tempo, o Dr. Manhattan aparece contemplando "A persistência da Memória", de Salvador Dalí - o que é extremamente significativo ao personagem, pois para ele o tempo (passado, presente e futuro) é fluido.

P. S. 3: O fundo dos quadrinhos apresenta, também, uma narrativa, uma movimentação. Não é estático e esquecido pelos criadores, pelo contrário: há encontros e desencontros que culminam no próximo quadro.

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Mas talvez se estivesse...

Estou sozinho em casa. E por isso mesmo, ela parece maior. Gigantesca. Vago de um cômodo a outro, arrastando o tédio comigo. Lanço-me numa cadeira, outra hora no sofá... por vezes na cama.
Nenhum gesto resolve minha inquietação, um desespero contido, reprimido, prestes a furar e jorrar por todo meu corpo. Ligo o rádio: vozes intermináveis. Desligo. Ligo a televisão: vozes intermináveis e movimentos estáticos. Desligo. Não me dizem, perguntam, respondem nada.

Talvez se ela estivesse aqui... Mas não está! Mas talvez se estivesse... eu poderia distrair-me nos seus sorrisos, prenderia-me nos seus cabelos, entorpeceria-me na tua voz e descobriria-me, perdido, em seus abraços. E isso seria tudo pra mim.

Faríamos brincadeiras bobas um com o outro, riríamos hora de leve, hora estridentemente por pequenas coisas. Falaríamos coisas sérias também. Tão sérias que nossos rostos se contrairiam, se tornariam pesados e tristes.

Mas nossos olhos se encontrariam novamente, nos fazendo lembrar o quanto nos amamos. E então voltaríamos a sorrir - por dentro e por fora e principalmente por dentro. E em nossas consciências, findado o riso externo, do corpo, ainda ecoaria os sons dos sorrisos de dentro - seja do coração ou da mente ou de Deus ou dos cosmos.

E passaríamos as manhãs e as tardes e as noites juntos. E na escuridão noturna, eu esperaria você dormir, e ainda lhe daria uma última olhada, um último afago, um beijo na testa, e então eu dormiria. E, muito provavelmente, eu sonharia com você, meu amor.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Sobre Lição de anatomia, de Alan Moore

Recentemente, li a narrativa em quadrinhos Lição de anatomia, arco de histórias do Monstro do Pântano, escrita pelo já lendário Alan Moore, desenhada pelo magistral Stephen Bissette e artefinalizada por John Totleben. E a considero extraordinária.

Publicada pela editora brasileira Metal Pesado, no ano de 1997, sob o selo Obras Primas Vertigo – N°1 (em preto e branco), conta com uma boa introdução, escrita por Moore, que serve para situar o leitor sobre as fases anteriores do personagem, e mais dois textos: um do estudioso das narrativas sequenciais Álvaro de Moya e o outro do (editor?) Jotapê, ambos bem importantes por trazerem um panorama do gênero terror nos quadrinhos e, também, curiosidades sobre publicações da DC Comics e seu rico universo.

Lição de anatomia é fantástica e chama atenção, principalmente, pelo seu enredo e pelo modo como este é disposto na sucessão das páginas. O roteirista escreve e distribui quatro microcontos de horror que, quando unidos, compõe um todo incrível, minuciosamente arquitetado, envolto numa insana atmosfera cinza, pegajosa, úmida e realmente assombrosa que mistura humanidade, política e ideologia – a típica simbiose realizada pelos bons escritores e pelas boas histórias em quadrinhos.

Assim, o Monstro do Pântano luta, página após página, contra o fato de se descobrir, simplesmente, uma casca oca, vazia, desprovida de sentimentos e de essência humana. Este, além de digladiar com seus medos interiores refletidos em seu aspecto exterior, simboliza a unidade resultante do homem com a natureza – indissociáveis e interdependentes na História.

A narrativa apresenta, ainda, um tom político e ideológico, pois termina abarcando o discurso ambientalista de proteção à natureza e criticando a inutilidade das cúpulas do poder mundial (tal como a apática ONU na questão Israel x Palestina) sobre as Guerras – seja do homem com ele mesmo, seja deste em relação a sua sanha expansionista sobre o planeta, não respeitando os recursos naturais para se atingir gananciosos fins.

Desse modo, é crítica e significativa a aparição (mesmo que obrigatória) da Liga da Justiça (da América, claro!) que, à distância – tal como os poderosos grupos que decidem os destinos do mundo – discutem, ponderam, refletem... mas não agem, não se envolvem no corpo a corpo dos problemas que realmente afetam milhares de indivíduos. Não, isso fica a cargo dos verdadeiros donos do poder: o povo – tão bem representado por um aparentemente simples camponês e sua necessidade de lutar pela sobrevivência, enfrentando o vilão que encarna a fúria da natureza e que passa a destruir tudo a sua volta, almejando a aniquilação do ser humano – até compreender que ele próprio é resultado da simbiose e da interdependência Homem/Natureza.

Esse enredo, todo bem amarrado e ricamente materializado pela arte sensacional dos artistas Bissette e Totleben, faz dessa história em quadrinhos, incontestavelmente, uma pérola dos anos 80, engrandecendo, ainda mais, a arquitetônica estética do escritor Alan Moore. Merecidamente.




sábado, 26 de julho de 2014

Ser Humano

Ato
e condição:
Serumano.
Fato
e contradição:
Ser-humano.
Euforia
(sem explicação)
Calmaria
(em ebulição):
Ser humano.
Ato
e condição.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

"Pena não ser burro, não sofria tanto"

A coisa mais importante, e também a mais inquietante ao homem, é o tomar consciência do mundo que o cerca. É de máxima importância pois sem essa conscientização não nos situamos (nem sitiamos!), não nos posicionamos e não nos inserimos efetivamente na realidade circundante. Mas tudo isso inquieta e aflige.

Causa inquietação porque mexe com nossos valores, coloca em risco nossas crenças, ameaça o nosso porto-seguro e nos obriga a ficar em ação - histórica, social, cultural e politicamente. Assim, passamos a ver o mundo em um eterno conflito - desigual, muitas vezes armado e, sempre, ideológico.

Sem igualdade pois nos mostra e nos acostuma com a verticalidade das relações dos homens e a eterna CLASSESFICAÇÃO das sociedades. Bélico em virtude da sanha IMPERIALISTA, dominadora e doentia dos governantes. E ideológico porque TUDO está envolto por ideologias - os filmes, os desenhos, os livros, as igrejas, as escolas... enfim, tudo se engendra nessa trama que, sutilmente, controla e se legitima (simultaneamente).

E nada escapa a isso. E isso é assustador. Principalmente pelo fato de que poucos tomam ciência do mundo em que vivem e do quão opressora é a Realidade. Assim, faz sentido a citação que dá título a este texto, retirada de uma das músicas do maluco beleza: "Pena não ser burro, não sofria tanto."

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Linhas sobre o tempo

Nada mais será como antes
pois o segundo não é mais o mesmo
e os olhos acompanham os segundos
e estes, céleres, misturam-se aos minutos
que se arrastam até as horas - que jorram os dias.
E nesse mar temporal
somos engolfados
e fustigados
até aprendermos a navegar a vida
e a desejar horizontes e terras novas
que serão pisadas por homens novos
Nós!
já transmutados pelo tempo.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Sem título...

Entre cimento, blocos e
ferros retorcidos: escombros
materializando a morte
O amor não desistiu
O amor - seja da amizade
ou da solidariedade
ou do homem e da mulher - 
não venceu a Morte (Deusa invencível e eterna)
Mas eternizou-se nela (!),
e a comoveu, por meio
da simplicidade de 
um abraço.
                  (11-05-2013)


P. S.: A partir da comovente foto que percorreu o mundo, eternizando (tristemente) a catástrofe de Bangladesh.



sexta-feira, 14 de março de 2014

do mundo: ainda e sempre

Não... o mundo não está tão mal!
As árvores ainda permanecem verdes e plantadas na e dependentes da terra.
Não... o mundo não está tão mal!
As estrelas ainda são visíveis a olho nu e ainda estão incrustadas no negrume do universo.
Não... o mundo não está tão mal!
O universo ainda é vasto e infinito e o homem ainda não decodificou seus mistérios.
Não... o mundo não está tão mal!
Ainda há um céu normal que segura o sol (de dia! enquanto pensamos) e a lua (de noite! enquanto sonhamos).
Não... o mundo não está tão mal!
Ainda existem homens e mulheres e crianças e velhos dispersos e amontoados e sonhadores pelo seu território. E eles ainda lutam e amam e perdem e vencem e vão e ficam sob o céu ora azul ou preto ou cinzento ou esfumaçado mas ainda o teto natural da humanidade.
Não... o mundo não está tão mal!
Ainda há desejo fora das máquinas e eles pulsam e impulsionam os seres também fora das máquinas a viverem.
Não... o mundo não está tão mal!
Ainda há consciência único deus perceptível na nossa cabeça e dentro dela fazendo crer em Bem e em Amor e em Corações e que todo o Mal fenecerá e ainda existem as perguntas sem respostas que exigem serem indagadas e há o Ser que quer saber e rumina o saber para mais poder saber e há o Ser que quer amar e rumina o amor e quer mais amor pois há esperança e é ela quem grita sufocada flagelada no meio de todo esse turbilhão que é o mundo:
NÃO! O MUNDO NÃO ESTÁ TÃO MAL!!

segunda-feira, 10 de março de 2014

O exército de um homem só - capa, contracapa e conteúdo

Li, esperançoso de ver logo o final, o livro O exército de um homem só, do falecido escritor porto-alegrense Moacyr Scliar (1937 - 2011). Iniciei a leitura entusiasmado pela beleza poética do título e motivado por uma aura idealista e, até certo ponto, revolucionária do texto da quarta capa, produzido pela editora L&PM, que dizia o seguinte:
Este livro está definitivamente incorporado à literatura brasileira como uma das peças de ficção mais importantes produzidas na década de 70. Aqui, Scliar cria um personagem definitivo, o Capitão Birobidjan, destemido herói de um novo mundo, fanático pregador de utopias, solitário e esperançoso navegador de um mar de indiferença.O exército de um homem só arrebata o leitor através da narrativa ágil, precisa, estruturada sobre cortes no tempo, onde a ficção é envolvida constantemente por uma atmosfera fantástica. O humor amargo de Moacyr Scliar ronda este belo livro. A saga de Birobidjan, o solitário pregador de um mundo melhor, seu louco humanismo, quixotesco, seus sonhos mágicos, fazem deste livro uma leitura emocionante e inesquecível.
Impossível para mim não se alegrar com tais palavras. Pois bem, o entusiasmo e a alegria ficaram por aí. Da metade do livro em diante - quem sabe até mesmo antes - não via a hora de terminar logo tão árduo trabalho. Árduo pois enfadonho e de escrita fragmentada - não que este último aspecto seja problema para amantes de literatura como eu, mas nesse caso em particular era, já que me deixava ansiosíssimo para descobrir algo a respeito das personagens, ou dos ambientes da história, ou mesmo sobre algum aspecto histórico tão bem trabalhado pelo escritor...ou qualquer outra coisa que fosse. Mas o fato é que não se descobria nada de relevante com o passar das páginas. Obra insossa!

Claro que há pontos de interesse na composição do livro: o caráter biográfico e atemporal, o passeio pelo século XX - desde a segunda década até o início dos anos setenta -, o estilo do escritor na descrição das ações das personagens, o humor ácido disseminado pelo texto, as alusões a outras obras etc. Isso em relação à forma. Quanto ao conteúdo, é aí - a meu ver - que reside minhas desilusões. Muito em virtude do texto citado acima! 

Há sim um personagem idealista, quixotesco, ferrenho batalhador de um novo mundo! "Luta" e "trabalha" (em vão), até o fim de sua vida, em prol da realização de seus utópicos ideais! Mas é um sujeito louco. E não é o típico sujeito à margem de uma sociedade indiferente e alienada, que o trata como insano. Não, ele realmente é louco - isso fica bem claro no livro. Mayer Guinzburg - verdadeiro nome do protagonista - chega mesmo a se ajustar socialmente, mas os instintos libertários se afloram e ele parte novamente rumo à construção d'uma nova sociedade.

Tudo isso tratado de maneira irônica pelo autor. E é essa ironia que não se entende. E é aí que entra a contradição em relação ao texto da quarta capa: a narrativa não tem a seriedade e a "emoção inesquecível" que a resenha quer conferir a ela. Pelo contrário: há mesmo uma crítica no livro ao caráter ditatorial que resultam dessas utopias - exemplo disso é o caráter tendencioso e individualista do Capitão Birobidjan em muitos momentos da história. A impressão que se tem é que quem escreveu tais linhas nem sequer leu o livro! Do contrário, não seriam estas as palavras para apresentá-lo ao público.

Acredito que o que Scliar queria mesmo não era construir uma personagem idealista, coletivista, utópica... E muito menos crítica da sociedade e dos sistemas capitalista e comunista (polos centrais da história), mas sim um verossímil indivíduo revelador do caráter enlouquecedor de um mundo dividido, espremido por tais ideologias. E isso é genial. Mas está implícito, subentendido. Perdido e diluído nas 170 e poucas páginas chatas de se ler.

Agora vejo a verdade no ditado que diz para não se julgar um livro pela capa. E, por extensão, pela contracapa, resenha, prefácio, orelhas...



segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Na realidade do mundo

Em 2013, após relatos de que a Síria havia feito, em sua própria população, uso (e guardava um arsenal) de armas químicas - situação semelhante a do Iraque, há alguns anos - , os Estados Unidos da América, oportunamente, quiseram intervir, alegando ser aquilo um perigo para o resto do mundo. Claro que o que estava em jogo, assim como na situação iraquiana, era a tomada de um território riquíssimo em petróleo.

Pois bem, a situação continuou, os conflitos entre o governo sírio e os rebeldes - também sírios -continuaram, e os EUA persistiram em pressionar a opinião pública a apoiar uma invasão. Que por sorte - ou pelo fato da Síria ter o "apoio" da Rússia - não aconteceu (do jeito que os líderes americanos queriam, é claro!). Acontecesse, já não estaríamos aqui - tão vasto é o poderio nuclear das duas potências!!

O que aconteceu mesmo fora um massacre - que com uma invasão só se potencializaria! - entre governo, rebeldes e a população no meio, arcando com os "efeitos colaterais".

Mortes e mais mortes...e a tensão de que uma Terceira Guerra Mundial acabaria com tudo... Foi isso o que sentiu, penso eu, quem acompanhou os jornais naquelas dias.

Em meio a esse cenário, envolvido em tal atmosfera, fora escrito o poema "Na realidade do mundo".


Na realidade do mundo

Preciso escrever alguma coisa!
É sobre esse cheiro: ODOR!
Que exala das notícias
Das páginas dos jornais
Da televisão do rádio
E das bocas dos poucos que falam...
É um cheiro (ODOR) de morte
Putrefação
Vala comum com amontoados de corpos
SINTAM...
É quase possível tocá-lo
Impregna as narinas, entorpece o cérebro
É um odor que traz consigo sons
- gritos, soluços, tiros e bombas
gemidos estridentes: GUERRA!
E estes sons entoam uma canção
embalada no medo
- Cantada pelo Medo -
Que traz o sono
e a insônia
- com seus pesadelos
escorraçando os sonhos
e as esperanças
escancarando sua boca
e nos engolindo
e nos vomitando
despidos de TUDO
Nus e com frio
Na realidade do mundo.    
       (3/9/2013)

***      
                     
Em janeiro deste ano - esperançoso de ter passado o susto -, lendo o quadrinho japonês GUNNM - Hyper Future Vision*, do autor Yukito Kishiro, deparei-me com essas palavras, ditas pelo personagem Buick, fotógrafo, perdendo sua sanidade em face ao terror da guerra:

Nascemos e morremos...
Sem parar...
Sem parar...
Nada muda...
não conseguimos mudar nada...

O sol majestoso no céu
e cadáveres na terra...
Ferro queimado...
A verdadeira imagem do mundo
É confusão e caos.
Essa é a única lei que realmente vale.

Eu sinto que estava tendo um sonho gostoso,
Mas eu já me esqueci do que se tratava...

A fumaça esconde tudo que está distante...
O futuro é incerto...
Eu não quero mais ser um humano...

Sou uma lente esfomeada!
Sou o olho da morte
que devora tudo que vê!!!

E o que tem tudo isso? Simples: além do fato dos textos apresentarem a guerra como aterradora e ensandecedora, faz pensar, também, como as coisas do mundo parecem entrelaçar-se de tal modo que dão a impressão de que tudo já está planejado e que apenas representamos nossos tristes papéis numa peça teatral onde não conhecemos os escritores, diretores, figurinistas, sonoplastas e todos os outros que permanecem atrás das cortinas e das luzes.

E isso chega a ser tão apavorante quanto o fato de estarmos em meio a esta guerra.



* Trecho retirado do volume 16 do mangá.







sábado, 1 de fevereiro de 2014

Dez anos

Os rubros borrões preenchiam uma boa porção da parede. Esguichos vermelhos pintavam partes de algumas mesas e cadeiras. No chão, uma poça escarlate e luminosa, em virtude da claridade que penetrava pelas janelas, crescia à medida que o sangue escorria da cabeça desfigurada que parecia não pertencer ao pequeno e frágil corpo que jazia, inerte, no chão.

O aluno tinha seus dez anos. Seu nome pouco importava diante de tão trágico fim; diante de tão tenra idade: dez anos. Estava concluindo a quarta série do ensino fundamental. E esse era o motivo de tão triste desfecho para uma vida ainda tão curta. Uma vida de dez anos.

No momento a sala de aula estava vazia. Estava silenciosa. Encerrava apenas o jovem corpo... torto... caído... desfalecido. E a arma. Uma pistola automática. Caída ao lado do corpo.

Há quinze minutos, talvez vinte, era um zum-zum-zum interminável. O alarido estrídulo das vozes dos alunos preenchiam o espaço compacto da sala de aula. A porta fechada contribuía para tornar tudo mais intenso: as conversas, a correria ora e outra, e o inútil esforço da professora que lutava para fazer-se ouvir, tentando passar seu conteúdo e fazer valer seus quatro anos de faculdade.

De repente o estampido. Forte, seco, autoritário. E o silêncio.

Pareceu que o mundo parara. Os ruídos, os alunos, a professora, a vida... tudo cessara. Os alunos abobalhados, atônitos, instintivamente procuravam a origem do barulho. A docente petrificou-se. Numa fração de segundos todo o silêncio do universo ocupou o espaço daquela sala.

Cinco segundos, talvez menos, e o caos e a confusão retornaram, abruptos, incomparavelmente pior. Milésimos de segundos de reflexão e todos amontoavam-se em direção à saída empurravam-se desesperadamente gritavam sabe-se-lá-o-quê pisoteavam-se num frenesi de pavor. A professora pobre criatura estúpida em vão tentou acalmar-se não pode: correu em direção à porta abriu-a e a torrente de alunos saiu em pânico deixando para trás um cenário caótico desordenado e um corpo que tombara pesadamente.

Agora os peritos e os policiais examinavam o cadáver irreconhecível. Ouviam os amiguinhos, os professores, o diretor.... Ligavam para os pais. Examinavam a cena da tragédia. Bradavam ordens para que se investigasse a origem da arma – que logo descobriram ser do pai, policial militar.

“O que teria acontecido?” “Acidente?” “Algo proposital?” Indagavam os investigadores. Demoraram-se a considerar a hipótese de suicídio. “Era impossível! Era apenas uma criança! Tinha apenas dez anos! Dez anos! Devia estar brincando com a arma, colocando-a assim na boca...”.

Concluiu-se que fora isso mesmo: suicídio. Os pais, inconformados com a perda, foram ouvidos e, em prantos, alegaram que o garoto era feliz, brincalhão... nunca houvera manifestação alguma de distúrbios psicológicos ou algo do tipo. Os colegas de turma diziam que ele era normal, apenas um pouco tímido e metido consigo mesmo. Os professores alegavam que ele era bom aluno, compreendia e realizava as tarefas, não dava trabalho. No entanto afirmavam que ele era um pouco inquieto na sala de aula, “era como se estivesse sempre querendo sair dali”.

O pai fora rapidamente afastado da corporação e responde processo por descuidar-se da arma. A mãe adoecera pouco tempo depois da morte do filho e permanece internada num hospital. O caso foi encerrado e o garoto julgado como sofredor de algum transtorno psíquico – não souberam dizer qual. Era a única explicação: as agressões e chacotas sofridas na escola foram consideradas insuficientes para levá-lo a tomar tal atitude.

E realmente foram. Assim como a ausência dos pais e a falta de atenção por parte dos professores. Nada disso contribuiu para seu ato. O que realmente foi decisivo para o suicídio – já tentado antes, sem ninguém o saber, também com a arma do pai, porém sem sucesso devido o medo que o fez desistir – fora a própria escola. Nem alunos valentões, nem pais, nem professores, nem problemas mentais... nada disso. Apenas o pavor do monstro institucional chamado Escola.

O garoto tinha apenas dez anos. Se tivesse mais idade talvez conseguisse dizer que o que lhe afligia era a própria estrutura escolar. Atormentava-lhe o fato de estar trancafiado, durante horas, ali. Todos os dias. Perturbava-lhe as fileiras de alunos e o tratamento comum a todos. Incomodava-lhe o cárcere educacional (não havia cometido crime algum!). Tirava-lhe o sono a perspectiva do futuro, dos anos vindouros que teria, ainda, que permanecer naquela condição. Era inadmissível aquela triagem estatal para inseri-lo numa sociedade desigual. Eram insuportáveis aquelas paredes de concreto maciço a aprisioná-lo...

E fora assim, então, que encerrado naquela masmorra colocou o cano na boca e apertou o gatilho. Almejando liberdade? Não sabia ainda o que isso significava... Não media ainda as consequências dos seus atos...Queria apenas sair dali. E não ter que voltar mais.




P. S.: Escrevi este conto no segundo semestre de 2012, na faculdade. A ideia era produzir uma narrativa curta, norteada pela temática da educação.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

A arte dos quadrinhos e o seu constante diálogo com outras artes

Interessante observar - e refletir sobre - o quão abrangente e rica é a linguagem das Histórias em Quadrinhos. Esta, consolidada em meados do século XIX e em eterna evolução, mantém-se em constante diálogo com outras expressões artísticas, tais como a pintura, a literatura e a fotografia - bases fundamentais da sua constituição -, o cinema, a música, a poesia e outras.

As HQs (como são chamadas comumente), desenvolveram-se, como alguns autores afirmam, simultaneamente com a civilização humana. Evoluíram a partir das pinturas rupestres, passando pelos hieróglifos da cultura egípcia, posteriormente viu a criação da imprensa, o avanço da industrialização e da ciência e, com elas, o avassalador desenvolvimento tecnológico - do qual, obviamente, se alimenta nos dias de hoje. Trata-se de uma linguagem única - resultado da junção do texto com a imagem -, justamente pelo seu caráter abrangedor e assimilador de outras expressões artísticas.

Assim, as HQs são de interesse e motivo de reflexão pelo fato de que, por meio de uma única (e boa!) história dessas, tomamos contato com diversas outras expressões artísticas - o que aciona diversas competências leitoras que temos, estimulando nosso cérebro -, além de nos levar a pensar no quão importante elas são, pois constituídas a partir da diversidade cultural que nos cerca. É uma linguagem híbrida, extremamente veloz e de fácil assimilação em relação ao que é exposto - o que a torna perfeita diante da velocidade do nosso século.

Dito isto, exemplifico essa característica do diálogo com outras artes por meio do trecho da história Wolverine - Arma X*, de Barry W. Smith (desenhos e roteiro), que segue:


Eu tô fugindo!

De um sonho!
E alguma coisa tá atrás de mim!
Na minha cola...
Como uma sombra!
Ela quer me sufocar...
Na sua escuridão!
Aí não vou poder gritar...
Nem resistir...
Porque ela tá dentro de mim!
Nas minhas tripas...
Dentro dos meus ossos!
       (...)
Tá me alcançando...
Se arrastando nas minhas veias feito corda!
Os tendões são fios...
Como de marionete.
Tá me cortando...
Me arrastando de volta pras trevas!


Pesadelo sem fim...

Ondas pretas correndo na noite...
Líquido...
Como sangue preto!
E eu não consigo escapar!
Tá nos meus ombros,
Me cortando com espetos!


Tá respirando dentro de mim...

E eu tô inspirando seu bafo quente!
Fedor de morte na minha boca!
Eu não consigo escapar!
Mas tenho que...
Fugir! Fugir pra sempre...
Lutar pra sempre!
A fera!
     (...)
Desabando sob o peso da fera.



Isso é nitidamente poético! Dialoga com a poesia. Trata-se de uma metáfora da luta interior que travamos com nossos medos, nossos instintos animais - feras que podem, a qualquer momento, nos devorar. Aí está uma demonstração do que foi dito sobre a arte dos quadrinhos. De como esta se constitui a partir da assimilação de outras linguagens artísticas e torna-se única e independente.



P.S.: A relação aqui feita, entre quadrinho e poesia, não tem o intuito de torná-lo maior em virtude da aproximação com a literatura, mas sim ressaltar tal característica e, justamente por isso, o quão interessante e importante ele é. Visa, pois, contribuir para tirar os quadrinhos do âmbito tão somente infanto-juvenil e garantir-lhe a sua importância como objeto artístico-cultural!




*A referida história foi publicada na revista "Wolverine Extra" - nº 1, pela editora Abril, no ano de 1995 - edição especial,  formatinho. O trecho citado encontra-se nas últimas páginas da publicação.






 

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Divagações pós-leitura (verbo-visual) de Wolverine - Arma X, O substituto, Gunnm, Tropa de Elite 2, The Walking Dead e poemas de Ginsberg

2014 começou bem. Li Wolverine - arma X (edição formatinho), estou acompanhando The Walking Dead (os quadrinhos), assisti O substituto e Tropa de Elite 2 e, no momento, leio Uivo, Kaddish e outros poemas, de Allen Ginsberg e o mangá cyberpunk Gunnm - Hyper Future Vision, de Yukito Kishiro. Óbvio que o cérebro, habituado à velocidade do século XXI, está rapidamente buscando conexões entre coisas tão DISTINTAS, INTERESSANTES e, ao mesmo tempo, PRÓXIMAS umas das outras.

Comecemos por Wolverine - arma X. Nada mais nada menos que uma metáfora, poética (diga-se de passagem), do conflito interior que travamos a partir do exterior. É, no fim, uma luta para não sermos animalizados pelos avanços do homem em face das descobertas científicas - grosso modo, claro. É um não querer sucumbir ao medo de nos tornarmos irracionais em virtude disso.

The Walking Dead - até onde li (edição 15) - é uma metáfora, também (por que não?), do absurdo das situações que podemos encontrar quando despertamos para o mundo e de como somos forçados a conviver com (e até a aceitar) tudo isso. Há também o eterno conflito da razão com a loucura, da vida com a morte (literalmente) muito bem representado pelos autores da série.

Os dois filmes - O substituto e Tropa de Elite 2 - representam a luta, e a quase impotência, diante de uma sociedade marginalizada e um sistema corrupto e opressor. No primeiro a crítica se dá por meio da educação, e, no segundo, por meio das forças policiais e políticas.

Ainda, os poemas de Allen Ginsberg e o mangá de Yukito Kishiro são proféticos e apocalípticos. Revelam o homem engolido e vomitado pelos grandes centros urbanos e pelas implacáveis máquinas industriais. Um universo cru e violento, onde os sentimentos afetivos (inerentes aos homens) são, quase por completos, substituídos/aniquilados pela materialidade das coisas. Ambos apresentam um mundo dual, dividido entre podridão e matéria - de um lado - e luz transcendente do outro - além (ou acima).

Sendo assim, medo, absurdo, opressão e utopia são os elementos que amarram essas expressões artísticas tão diversas. São responsáveis por aproximar textos tão variados, tanto no tempo (os poemas de Ginsberg são da metade do século XX,  Arma X e Gunnm são dos anos noventa, The Walking Dead e os dois filmes são dos anos 2000), quanto em suas materialidades expressivas (quadrinhos, cinema e poesia).

Por fim, reafirmam e profetizam, bela e inteligentemente, o que já sabemos: que somos seres frágeis e ferozes, lutando contra o insólito e absurdamente extraordinário. Representam, pois, cada qual à sua maneira, o combate eterno dos sujeitos oprimidos contra um estado (ou Estado, mesmo) de coisas onipresente/onipotente opressor, desejosos de manter suas individualidades e esperançosos pelo bem da coletividade humana.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Natal

Pesadelo dos desgraçados!
Flagelo dos senhores solitários
em bares solitários.
Moléstia dos desesperançados e tristes amantes de balcões de botecos
padarias
e barzinhos.
Desespero de 24 horas ininterruptas dos que vagam
- carcaças vazias - por aí,
sem filhos, sem esposas, sem amantes, sem amigos
sem mães e sem pais, sem irmãos, sem emprego
sem abraços
sem beijos
sem afagos
sem amor: CHEIOS DE NADA.
Afogando-se no
e transbordando o 
NADA.
Escutando "Feliz Natal" de desconhecidos
e prosperando o NADA.

Pra começo de conversa

Bom, esta é a primeira postagem do recém-inaugurado Baboseiras Subjetivas. Logo, faz-se importante, antes de mais nada, esclarecer tão singular título para este blog - o qual, nada mais significa, que um veículo para canalizar e expressar meus pensamentos... seja lá pra quem for ler. 

Assim, Baboseiras Subjetivas nada mais quer dizer que isto: hora ou outra sempre consideramos besteiras (ou baboseiras mesmo) o que dizemos/pensamos sobre algo - o que, obviamente, não é. Mas, por tratar-se de opinião (fundamentada ou não) deixamos (ou deixam) de dar a devida relevância a ela. É pura e simplesmente uma provocação a mim e a todo mundo! Nada além disso.

O fato é que eu já vinha, há algum tempo, pensando em criar um blog assim. Demorou uns anos... mas aí está: um meio propício para comunicar impressões do que sinto/leio/ouço/vejo/vivo. Algo que, acredito, manterá um diálogo interessante com seja lá quem vier a visitá-lo (mesmo para críticas, claro!!!!). Talvez o conteúdo aqui depositado sirva, simplesmente, aos vírus - já que não temos traças virtuais -, e nunca nem venha a ser lido, mas não tem problema: é melhor lançá-lo aqui que deixá-lo apodrecendo e corroendo meu tão jovem cérebro... (risos).

Bom, sejam bem-vindos ao Baboseiras Subjetivas. E, principalmente, sejam TODOS bem-vindos a um pouco do(s) meu(s) UNIVERSO(S)!