sexta-feira, 14 de março de 2014

do mundo: ainda e sempre

Não... o mundo não está tão mal!
As árvores ainda permanecem verdes e plantadas na e dependentes da terra.
Não... o mundo não está tão mal!
As estrelas ainda são visíveis a olho nu e ainda estão incrustadas no negrume do universo.
Não... o mundo não está tão mal!
O universo ainda é vasto e infinito e o homem ainda não decodificou seus mistérios.
Não... o mundo não está tão mal!
Ainda há um céu normal que segura o sol (de dia! enquanto pensamos) e a lua (de noite! enquanto sonhamos).
Não... o mundo não está tão mal!
Ainda existem homens e mulheres e crianças e velhos dispersos e amontoados e sonhadores pelo seu território. E eles ainda lutam e amam e perdem e vencem e vão e ficam sob o céu ora azul ou preto ou cinzento ou esfumaçado mas ainda o teto natural da humanidade.
Não... o mundo não está tão mal!
Ainda há desejo fora das máquinas e eles pulsam e impulsionam os seres também fora das máquinas a viverem.
Não... o mundo não está tão mal!
Ainda há consciência único deus perceptível na nossa cabeça e dentro dela fazendo crer em Bem e em Amor e em Corações e que todo o Mal fenecerá e ainda existem as perguntas sem respostas que exigem serem indagadas e há o Ser que quer saber e rumina o saber para mais poder saber e há o Ser que quer amar e rumina o amor e quer mais amor pois há esperança e é ela quem grita sufocada flagelada no meio de todo esse turbilhão que é o mundo:
NÃO! O MUNDO NÃO ESTÁ TÃO MAL!!

segunda-feira, 10 de março de 2014

O exército de um homem só - capa, contracapa e conteúdo

Li, esperançoso de ver logo o final, o livro O exército de um homem só, do falecido escritor porto-alegrense Moacyr Scliar (1937 - 2011). Iniciei a leitura entusiasmado pela beleza poética do título e motivado por uma aura idealista e, até certo ponto, revolucionária do texto da quarta capa, produzido pela editora L&PM, que dizia o seguinte:
Este livro está definitivamente incorporado à literatura brasileira como uma das peças de ficção mais importantes produzidas na década de 70. Aqui, Scliar cria um personagem definitivo, o Capitão Birobidjan, destemido herói de um novo mundo, fanático pregador de utopias, solitário e esperançoso navegador de um mar de indiferença.O exército de um homem só arrebata o leitor através da narrativa ágil, precisa, estruturada sobre cortes no tempo, onde a ficção é envolvida constantemente por uma atmosfera fantástica. O humor amargo de Moacyr Scliar ronda este belo livro. A saga de Birobidjan, o solitário pregador de um mundo melhor, seu louco humanismo, quixotesco, seus sonhos mágicos, fazem deste livro uma leitura emocionante e inesquecível.
Impossível para mim não se alegrar com tais palavras. Pois bem, o entusiasmo e a alegria ficaram por aí. Da metade do livro em diante - quem sabe até mesmo antes - não via a hora de terminar logo tão árduo trabalho. Árduo pois enfadonho e de escrita fragmentada - não que este último aspecto seja problema para amantes de literatura como eu, mas nesse caso em particular era, já que me deixava ansiosíssimo para descobrir algo a respeito das personagens, ou dos ambientes da história, ou mesmo sobre algum aspecto histórico tão bem trabalhado pelo escritor...ou qualquer outra coisa que fosse. Mas o fato é que não se descobria nada de relevante com o passar das páginas. Obra insossa!

Claro que há pontos de interesse na composição do livro: o caráter biográfico e atemporal, o passeio pelo século XX - desde a segunda década até o início dos anos setenta -, o estilo do escritor na descrição das ações das personagens, o humor ácido disseminado pelo texto, as alusões a outras obras etc. Isso em relação à forma. Quanto ao conteúdo, é aí - a meu ver - que reside minhas desilusões. Muito em virtude do texto citado acima! 

Há sim um personagem idealista, quixotesco, ferrenho batalhador de um novo mundo! "Luta" e "trabalha" (em vão), até o fim de sua vida, em prol da realização de seus utópicos ideais! Mas é um sujeito louco. E não é o típico sujeito à margem de uma sociedade indiferente e alienada, que o trata como insano. Não, ele realmente é louco - isso fica bem claro no livro. Mayer Guinzburg - verdadeiro nome do protagonista - chega mesmo a se ajustar socialmente, mas os instintos libertários se afloram e ele parte novamente rumo à construção d'uma nova sociedade.

Tudo isso tratado de maneira irônica pelo autor. E é essa ironia que não se entende. E é aí que entra a contradição em relação ao texto da quarta capa: a narrativa não tem a seriedade e a "emoção inesquecível" que a resenha quer conferir a ela. Pelo contrário: há mesmo uma crítica no livro ao caráter ditatorial que resultam dessas utopias - exemplo disso é o caráter tendencioso e individualista do Capitão Birobidjan em muitos momentos da história. A impressão que se tem é que quem escreveu tais linhas nem sequer leu o livro! Do contrário, não seriam estas as palavras para apresentá-lo ao público.

Acredito que o que Scliar queria mesmo não era construir uma personagem idealista, coletivista, utópica... E muito menos crítica da sociedade e dos sistemas capitalista e comunista (polos centrais da história), mas sim um verossímil indivíduo revelador do caráter enlouquecedor de um mundo dividido, espremido por tais ideologias. E isso é genial. Mas está implícito, subentendido. Perdido e diluído nas 170 e poucas páginas chatas de se ler.

Agora vejo a verdade no ditado que diz para não se julgar um livro pela capa. E, por extensão, pela contracapa, resenha, prefácio, orelhas...