Recentemente, li
a narrativa em quadrinhos Lição de anatomia, arco de histórias do
Monstro do Pântano, escrita pelo já lendário Alan Moore, desenhada pelo
magistral Stephen Bissette e artefinalizada por John Totleben. E a considero
extraordinária.
Publicada pela
editora brasileira Metal Pesado, no ano de 1997, sob o selo Obras Primas
Vertigo – N°1 (em preto e branco), conta com uma boa introdução, escrita por
Moore, que serve para situar o leitor sobre as fases anteriores do personagem,
e mais dois textos: um do estudioso das narrativas sequenciais Álvaro de Moya e
o outro do (editor?) Jotapê, ambos bem importantes por trazerem um panorama do
gênero terror nos quadrinhos e, também, curiosidades sobre publicações da DC
Comics e seu rico universo.
Lição de
anatomia é fantástica e chama atenção, principalmente, pelo seu enredo e pelo
modo como este é disposto na sucessão das páginas. O roteirista escreve e
distribui quatro microcontos de horror que, quando unidos, compõe um todo
incrível, minuciosamente arquitetado, envolto numa insana atmosfera cinza,
pegajosa, úmida e realmente assombrosa que mistura humanidade, política e
ideologia – a típica simbiose realizada pelos bons escritores e pelas boas
histórias em quadrinhos.
Assim, o Monstro
do Pântano luta, página após página, contra o fato de se descobrir,
simplesmente, uma casca oca, vazia, desprovida de sentimentos e de essência
humana. Este, além de digladiar com seus medos interiores refletidos em seu
aspecto exterior, simboliza a unidade resultante do homem com a natureza –
indissociáveis e interdependentes na História.
A narrativa
apresenta, ainda, um tom político e ideológico, pois termina abarcando o
discurso ambientalista de proteção à natureza e criticando a inutilidade das
cúpulas do poder mundial (tal como a apática ONU na questão Israel x Palestina) sobre as Guerras – seja do homem com
ele mesmo, seja deste em relação a sua sanha expansionista sobre o planeta, não
respeitando os recursos naturais para se atingir gananciosos fins.
Desse modo, é
crítica e significativa a aparição (mesmo que obrigatória) da Liga da Justiça
(da América, claro!) que, à distância – tal como os poderosos grupos que
decidem os destinos do mundo – discutem, ponderam, refletem... mas não agem,
não se envolvem no corpo a corpo dos problemas que realmente afetam milhares de
indivíduos. Não, isso fica a cargo dos verdadeiros donos do poder: o povo – tão
bem representado por um aparentemente simples camponês e sua necessidade de
lutar pela sobrevivência, enfrentando o vilão que encarna a fúria da natureza e
que passa a destruir tudo a sua volta, almejando a aniquilação do ser humano –
até compreender que ele próprio é resultado da simbiose e da interdependência
Homem/Natureza.