segunda-feira, 14 de maio de 2018

Livros-jogos: uma boa experiência em sala de aula


Enquanto professor, sempre parti do pressuposto de que a leitura, antes de qualquer outra coisa no ambiente escolar, é a grande propulsora para o bom desempenho da educação. É, pois, o que possibilita uma satisfatória aprendizagem. Assim, desde que ingressei nessa área, busco introduzi-la cada vez mais na vida do aluno - apesar das constantes dificuldades encontradas.

Disso resulta, geralmente, a socialização oral e escrita de livros aos finais de bimestres e/ou semestres e reflexões quase diárias a partir da leitura de quadrinhos, poemas, contos curtos, letras de músicas etc. Fora trabalhos, também com leitura, além da sala de aula. Em resumo, é a partir do ler que pauto minhas ações enquanto professor.

No entanto, sempre achei a leitura de narrativas um pouco mais longas difíceis de serem executadas diante de 40 alunos - cada qual com seus problemas e suas diferentes motivações. Isso porque os alunos precisam, necessariamente, permanecer em silêncio e devidamente sentados por, pelo menos, uns 35 minutos - que é, basicamente, o tempo útil em uma aula de 50 minutos. E todos que já frequentaram uma sala de aula tradicional sabem da dificuldade de se conseguir tal façanha.

Assim, sempre que eu parava para ler para os alunos, inquietava-me o fato de vê-los "apenas escutando" o que era lido. É algo, como disse, muito importante; porém bastante monótono e, até certo ponto, tedioso.

Influenciado desde o início da minha adolescência por literatura, quadrinhos e RPG, e sabendo dos benefícios que estes trazem consigo, sempre penso em levar um pouco (ou muito, mesmo!) disso para a sala de aula. Foi pensando em tudo isso, num daqueles momentos que boas ideias atravessam, aleatoriamente, nossa mente, que vislumbrei uma boa possibilidade de aliar um pouco do conteúdo do 6º ano do Ensino Fundamental aos clássicos livros-jogos de RPG.


A aula, a partir da experiência com o livro-jogo, ficou mais dinâmica, produtiva e instigante - no que se refere, obviamente, ao conteúdo sobre literatura e elementos constitutivos da narrativa. Conceitos como narrador, personagem, foco narrativo, tempo e espaço, enredo, dentre outros, tornaram-se, com o uso dos tais livrinhos, mais próximos deles; e a sua assimilação e apreensão, mais fáceis e práticas. Tudo mais claro e "ilustrado" - à medida que uma aventura é contada e, ao mesmo tempo, é construída. 

E o principal: tornou-se menos cansativa e extremamente dinâmicas a leitura que eu faço e a participação (agora ativa) dos alunos - já que são eles a personagem que vivencia a história, que pondera e decide os caminhos a trilhar até chegar ao seu fim. São eles que enfrentam os desafios impostos pelo livro e vivem as emoções de participar, ativamente, da história.

Para além dos benefícios imediatos, a atividade, sempre feita uma vez por semana, melhora a atenção e reflexão dos alunos, além de estimular a socialização  e discussões orais em relação às tomadas de decisões e dar estímulos à imaginação e à  criatividade.

Além disso, a execução da atividade é bem simples: explica-se sobre o que é, basicamente, RPG; discuti-se o que é um livro-jogo ou uma aventura solo; em seguida fala-se das regras básicas do jogo - que são apreendidas, rapidamente, ao longo da própria aventura. Preenche-se a Ficha do jogador e, enfim, inicia-se a "aula".

Quando surgem as opções de escolha para prosseguir com a aventura, os alunos têm um tempo para refletir e discutir entre si e, sempre, vence a maioria - democraticamente. Testes e batalhas são decididos entre um aluno (representando a classe/herói) e o professor (os oponentes). E segue assim até o final da aventura.

Há tensão, emoção, cooperação e competitividade. E esta última não se dá entre os alunos, mas sim da COLETIVIDADE DA TURMA - personificando o personagem - com o ambiente e as adversidades da narrativa. E isso é mais um motivo para a inserção desse tipo de jogo em sala de aula.

Aliando leitura, diversão e ensino, e tirando o aluno da apatia e monotonia de atividades tradicionais, o uso do livro-jogo no ambiente escolar - além de simples e dinâmico - tem se mostrado uma experiência bastante interessante e proveitosa. É, nos dias atuais e em detrimento das dificuldades diárias enfrentadas pelos professores em sala de aula, um ótimo recurso para, antes de qualquer outra coisa, estimular a leitura - base de uma boa educação. 



P. S.: Texto escrito para o blog Amálgama RPG.
P. S. 2: Imagens retiradas do Google.