terça-feira, 20 de novembro de 2018

20.11

Ainda ecoa aqui
Urgente, eterno e feroz
O urro de Zumbi!
                   (Haicai L)

segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Oposição

Não vamos Armar!
A guerra é incitá-los
a Amar e Amar!
              (Haicai XLVI, 29.10/18)


P. S.: Após os resultados do 2° turno das eleições...

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Pelo Globo

Quando é fake
tem-se um fato.
Quando de fato
há um fato
tratam-no como fake.
História,
ciência e razão
constroem Mito(s)
para altares
de fé cega.
E o resto
(indigesto)
é escondido
(NUNCA ESQUECIDO!)
e apresentado,
décadas depois,
com "sinceras desculpas".

terça-feira, 14 de agosto de 2018

A parte que falta (porque DEVE faltar)



Resultado de imagem para a parte que falta


Aceitar que somos, e sempre seremos, incompletos é o que nos torna inteiros. 

Pode parecer senso comum, mas a frase aqui posta é bastante lógica. Passamos vidas inteiras tentando preencher espaços em nós mesmos que jamais serão preenchidos. Vazios que nos recusamos a aceitar. Uma falta que, quando compreendida como inerente à condição humana, será aceita como parte imprescindível do nosso ser.

Essas foram, basicamente, as ponderações feitas após a agradável leitura de A parte que falta, do americano Shel Silverstein (Sheldon Allan Siverstein, 1930-1999). O livro, recentemente publicado pela Companhia das Letrinhas, é incrível; uma verdadeira mistura dos gêneros poesia, prosa e, até, história em quadrinhos - pois que é o resultado da junção do visual e do verbal numa sequência narrativa.

Conta a história de uma personagem que se dá conta da sua incompletude e que, por isso mesmo, sai pelo mundo à procura da parte que lhe falta. Acerta e erra, se felicita e se entristece na busca contínua por completar-se. Até descobrir que o que nos falta é contentarmo-nos com nós mesmos; e que a tal parte que nos falta está, afinal, na gente mesmo. E que, portanto, tudo à nossa volta é importante, mas não indispensável. E daí interessa estarmos por aí, perambulando e apreciando tudo o que há de bom no mundo e em nós.

O autor materializa tudo isso de forma simples, mas magistral: a partir de traços, palavras e versos singelos, numa simbiose entre poesia, desenho e prosa. De leitura fluida, dinâmica e rápida A parte que falta nos mostra de maneira bastante lírica e bela o que todos nós, intuitivamente, já sabemos: que somos incompletos. E que sempre tentamos nos preencher com o que achamos que precisamos: amor, consumo, ideologias, coisas, pessoas etc.

Mas o que muitos não têm ciência, e o que o livro também nos mostra, é que ainda que tivéssemos tais partes em nós, ainda assim seríamos não completos. Ainda assim haveria os vãos, os vazios, os espaços necessitando do desejo de serem preenchidos... E então, e só depois disso, é que perceberíamos e entenderíamos que por faltar algo em nós é que somos completos, únicos, humanos. Que nós somos a parte de nós mesmos no fim das contas. Porque é preciso que nos "falte" alguma coisa para que possamos viver.

Antes preocupado e aflito, tentando desesperadamente completar-se, agora é sorrir e cantar, caminhando pelas estradas da vida: "Ai-ai-iô, assim eu vou,/em busca da parte que falta em mim."



P. S.: O livro é originalmente da década de 70!! E Ganhei minha edição do meu grande amor, numa data especial.

  

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

aos homens frios (depois da "Rosa")

há 73 anos
homens frios se maravilhavam
com a flor estranha
e gigantesca
criada em jardins artificiais
e esquisitos
repletos de telas e fios e
computadores e botões e
fórmulas atômicas

olhos frios e insensíveis
artificiais também
marejaram, brilharam
de excitação
quando o botão virou flor
e de forma medonha
e quilométrica
plantou-se em terrenos
repletos de Vidas

mãos frias aplaudiram
e bocas frias sorriram
babando poder
talvez ao redor de alguma mesa
ao ver e sentir coisas estranhas
cores, fumaça, cheiros
tudo radioativo e atômico
e artificial e destrutivo
que absorvia e destruía
tudo pelo caminho sem volta
e que abria os portões de um novo mundo
frio
onde só cabiam homens frios

e ainda hoje
agora!
há botões estranhos
dessa flor estranha
sob os cuidados
amorosos
e excitados
de frios homens ansiosos
que acariciam
eroticamente
suas estranhas criações

segunda-feira, 30 de julho de 2018

( !! )

Subir. Pra lá do alto
perceber-se tão pequeno.
Pó! De um Todo vasto.
               (Haicai XLII)

sexta-feira, 20 de julho de 2018

O copo

Pra uns quase cheio.
Ante outros: semivazio.
Com olhar sombrio

Me interessa é vê-lo.
E aí, refletir. Primeiro:
O que é? De onde veio?

               (Haicais XL e XLI)

quarta-feira, 20 de junho de 2018

etéreo

habitar
o ar
e passar
(passear)
de maneira incontida
pelas frestas do mundo
num caminho eterno circular
cósmico
e depois de tudo
descansar
desse sempre ir e ir

sexta-feira, 8 de junho de 2018

vago

pr' além desse espaço
d' impenetrável segredo
vou. Cosendo esparços.
               (Haicai XXXIX)

quinta-feira, 7 de junho de 2018

Duas palavrinhas necessárias sobre Ordem Vermelha, de Felipe Castilho



Repressão. Autoritarismo. Totalitarismo. Manipulação. E anseio por liberdade. São esses os temas que dão base à fascinante e épica narrativa de Ordem Vermelha - Filhos da Degradação, do escritor brasileiro Felipe Castilho. Quatrocentas e tantas páginas fluidas, vertiginosas e vibrantes, bem escritas, que mostram Untherak - a única região conhecida de um mundo fantástico que ecoa, contundentemente, sons da nossa própria realidade, profundamente marcada pelas feridas da desigualdade e opressão.

Lá, como aqui, realidade e verdade são modeladas a serviço de um governo opressor e autoritário, que asfixia e manipula seu povo - sem instrução - por meio da força, da exploração do trabalho e do poder insidioso e sutil, ilusório, da religião e da crença cega. Lá, como aqui, tudo o que foge à ideologia que impera é escondido, deturpado e conspurcado, distorcido e, muitas vezes, destruído por não se adequar ao paradigma dominante. Lá, como aqui, o povo serve unicamente para fazer girar as engrenagens violentas de um sistema doentio que não aceita questionamentos, não dá margem à dúvida, pois "perfeito" e, por isso mesmo, irracional.

No livro, seus trinta e poucos capítulos, bem entrelaçados e construídos, descortinam e nos mostram as poucas e solitárias pessoas que, uma a uma, vão tomando ciência da nefasta e sufocante realidade circundante, se armando e lutando de forma ferrenha e aguerrida para destruí-la e reconstruí-la. Pessoas bastante diferentes entre si, cada qual com suas feridas, cicatrizes e motivações lutando por liberdade e condições dignas de se viver. No afã de conquistar a utopia comum e atemporal de um mundo justo e melhor para todos.

Raças fantásticas, magia, grandes feitos, batalhas sangrentas, emoção e esperança, conspirações audaciosas e revolucionárias e muita política dão o interessante enredo de Ordem Vermelha, que ainda nos mostra um mundo medieval bastante evoluído em questões que pra nós ainda são discutidas sem o êxito que o bom-senso e a racionalidade exigem: homossexualidade, equidade entre homens e mulheres, visibilidade às minorias, valorização da cultura negra etc., são alguns dos assuntos abordados, mesmo que tangencialmente, ao longo da narrativa.

Geralmente as histórias que nos chegam são quase sempre as mesmas, pois oriundas dos mesmos temas e conteúdos fundamentais. O que nos fascina, no entanto, e o que as tornam únicas, especiais e originais é a forma como elas são contadas. E é esse o aspecto que fascina em Ordem Vermelha - Filhos da Degradação. Felipe Castilho escreve muito bem! Apresenta e desenvolve bem o enredo, descreve competentemente o mundo e os cenários e constrói de maneira magistral as imagens das batalhas épicas  dessa grandiosa fantasia medieval.

Cenas "menores" são forjadas com a mesma intensidade e habilidade com as quais são escritas as grandes batalhas. As páginas apresentando Raazi e Yanisha antes da (e, obviamente, na) Arena de Obsidiana, passando pelas descrições das ações de Aparição, as peripécias de Aelian até chegar às dezenas e dezenas de páginas finais de tirar o fôlego - tamanhas a intensidade e tensão dos acontecimentos heroicos - são os exemplos extremos da destreza do autor. Cada qual desenvolvida em seu oportuno momento e prendendo radicalmente a atenção do leitor - sem deixá-lo cair num possível tédio por conta da extensão do livro.

Tudo isso entremeado com páginas diferenciadas, escuras, que mostram o futuro de algumas personagens e que, espero, logo apareçam com os próximos, e possíveis, livros da "série". Este Volume 1 é, sem dúvida, o "prólogo" de uma fantasia bastante promissora e empolgante para o mercado fantástico brasileiro.

É, pois, um universo incrível e verossímil, épico e crítico que, paradoxalmente, nos garante uma fuga parcial das nossas realidades e, simultaneamente, nos condiciona à reflexão e à possibilidade de também lutarmos e revolucionarmos nossos próprios mundos.

Num período de retrocessos sociais, em que a defesa da liberdade, da igualdade, dos direitos humanos, das minorias etc. é quase um crime, uma "conspiração comunista", Ordem Vermelha - Filhos da Degradação é um verdadeiro grito de resistência e um sussurro bem-vindo, provocativo e incisivo de que é possível, ainda e sempre, buscar utopias e lutar por um futuro melhor.



segunda-feira, 14 de maio de 2018

Livros-jogos: uma boa experiência em sala de aula


Enquanto professor, sempre parti do pressuposto de que a leitura, antes de qualquer outra coisa no ambiente escolar, é a grande propulsora para o bom desempenho da educação. É, pois, o que possibilita uma satisfatória aprendizagem. Assim, desde que ingressei nessa área, busco introduzi-la cada vez mais na vida do aluno - apesar das constantes dificuldades encontradas.

Disso resulta, geralmente, a socialização oral e escrita de livros aos finais de bimestres e/ou semestres e reflexões quase diárias a partir da leitura de quadrinhos, poemas, contos curtos, letras de músicas etc. Fora trabalhos, também com leitura, além da sala de aula. Em resumo, é a partir do ler que pauto minhas ações enquanto professor.

No entanto, sempre achei a leitura de narrativas um pouco mais longas difíceis de serem executadas diante de 40 alunos - cada qual com seus problemas e suas diferentes motivações. Isso porque os alunos precisam, necessariamente, permanecer em silêncio e devidamente sentados por, pelo menos, uns 35 minutos - que é, basicamente, o tempo útil em uma aula de 50 minutos. E todos que já frequentaram uma sala de aula tradicional sabem da dificuldade de se conseguir tal façanha.

Assim, sempre que eu parava para ler para os alunos, inquietava-me o fato de vê-los "apenas escutando" o que era lido. É algo, como disse, muito importante; porém bastante monótono e, até certo ponto, tedioso.

Influenciado desde o início da minha adolescência por literatura, quadrinhos e RPG, e sabendo dos benefícios que estes trazem consigo, sempre penso em levar um pouco (ou muito, mesmo!) disso para a sala de aula. Foi pensando em tudo isso, num daqueles momentos que boas ideias atravessam, aleatoriamente, nossa mente, que vislumbrei uma boa possibilidade de aliar um pouco do conteúdo do 6º ano do Ensino Fundamental aos clássicos livros-jogos de RPG.


A aula, a partir da experiência com o livro-jogo, ficou mais dinâmica, produtiva e instigante - no que se refere, obviamente, ao conteúdo sobre literatura e elementos constitutivos da narrativa. Conceitos como narrador, personagem, foco narrativo, tempo e espaço, enredo, dentre outros, tornaram-se, com o uso dos tais livrinhos, mais próximos deles; e a sua assimilação e apreensão, mais fáceis e práticas. Tudo mais claro e "ilustrado" - à medida que uma aventura é contada e, ao mesmo tempo, é construída. 

E o principal: tornou-se menos cansativa e extremamente dinâmicas a leitura que eu faço e a participação (agora ativa) dos alunos - já que são eles a personagem que vivencia a história, que pondera e decide os caminhos a trilhar até chegar ao seu fim. São eles que enfrentam os desafios impostos pelo livro e vivem as emoções de participar, ativamente, da história.

Para além dos benefícios imediatos, a atividade, sempre feita uma vez por semana, melhora a atenção e reflexão dos alunos, além de estimular a socialização  e discussões orais em relação às tomadas de decisões e dar estímulos à imaginação e à  criatividade.

Além disso, a execução da atividade é bem simples: explica-se sobre o que é, basicamente, RPG; discuti-se o que é um livro-jogo ou uma aventura solo; em seguida fala-se das regras básicas do jogo - que são apreendidas, rapidamente, ao longo da própria aventura. Preenche-se a Ficha do jogador e, enfim, inicia-se a "aula".

Quando surgem as opções de escolha para prosseguir com a aventura, os alunos têm um tempo para refletir e discutir entre si e, sempre, vence a maioria - democraticamente. Testes e batalhas são decididos entre um aluno (representando a classe/herói) e o professor (os oponentes). E segue assim até o final da aventura.

Há tensão, emoção, cooperação e competitividade. E esta última não se dá entre os alunos, mas sim da COLETIVIDADE DA TURMA - personificando o personagem - com o ambiente e as adversidades da narrativa. E isso é mais um motivo para a inserção desse tipo de jogo em sala de aula.

Aliando leitura, diversão e ensino, e tirando o aluno da apatia e monotonia de atividades tradicionais, o uso do livro-jogo no ambiente escolar - além de simples e dinâmico - tem se mostrado uma experiência bastante interessante e proveitosa. É, nos dias atuais e em detrimento das dificuldades diárias enfrentadas pelos professores em sala de aula, um ótimo recurso para, antes de qualquer outra coisa, estimular a leitura - base de uma boa educação. 



P. S.: Texto escrito para o blog Amálgama RPG.
P. S. 2: Imagens retiradas do Google.





terça-feira, 24 de abril de 2018

Poeta

O poeta 
é um sentidor!
Senti(dor)
que labuta diariamente
com sensibilidade
toda a sensibilidade
Humana.
                       (2014)

domingo, 15 de abril de 2018

Silogismo amoroso

Sou,
com você.
Do contrário,
possibilidade
d' eu Ser.
Logo,
sem você
Eu Seria.
Só.
                           (2016)














terça-feira, 3 de abril de 2018

ampulheta

passa o tempo o tempo passa e arrasta
arrasta tudo o tempo vai o tempo vem
o tempo vai e vem além de tudo
o tempo passa e arrasta tudo
o tempo vem o tempo vai
o tempo vai e vem
além de
TU
DO
E
NA
DA
escapa
passa o tempo
o tempo passa e arrasta
arrasta tudo e nada escapa
o tempo vai o tempo vem o tempo
vai e vem além e nada escapa e tudo
arrasta o tempo passa e nada escapa

sexta-feira, 9 de março de 2018

Tudo em ruínas

Nada além de restos
e ruínas é o que eu sou.
Restos de uma sociedade em decadência
e ruínas dos homens em uma queda histórica
através das Eras.
E talvez nada me junte
e nada me levante
e nada me reconstrua
a não ser você.
                                (2014)

terça-feira, 6 de março de 2018

RPG: eternizando a contação de histórias

Desde tempos remotos, imemoriais, uma das características fundamentais da interação do homem é a contação de histórias. É por meio delas que projetamos anseios, inspirações, nos motivamos e escapamos, necessariamente, das nossas realidades.

Durante a década de 70, esse hábito foi transformado e aprimorado, colocando os contadores de histórias no interior delas, tornando-os, também, jogadores: nascia, assim, o RPG (Role-Playing Game, jogo de interpretação). Um jeito diferente e instigante de criar, contar e, ainda, viver histórias.

O RPG substituiu a fogueira e agora, os homens, sentam-se à volta de mesas, rabiscando papéis, rolando dados e construindo, cooperativamente, uma narrativa previamente iniciada por um deles (o mestre).

Assim, para além do aspecto lúdico, fundamental em qualquer jogo, o RPG possibilitou o PROTAGONISMO de todos, já que TODOS, JUNTOS, constroem e contam, simultaneamente, a história. E, a partir disso, todos ganham ou perdem, já que a história foi construída e contada, independente de seu desfecho.

E apesar dos inúmeros tipos de jogos de RPG que foram surgindo, bem como apesar dos inúmeros cenários também surgidos, sem esquecer, claro, os incontáveis sistemas de regras criados nestes mais de 50 anos de existência do hobby, uma coisa não mudou e nunca mudará: o contar e criar histórias, coletivamente. E é este, no fim, o principal objetivo de um jogo de RPG.

P. S.: Texto escrito inicialmente para o blog Amálgama RPG.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

V de anarquia

"A anarquia deve abraçar o estrondo das bombas e canhões.../...Todavia, deve amar ainda mais a doce música." (V)



É impressionante a força da arte. Arrebenta as portas da nossa mente, aos chutes, e invade bruscamente, deixando uma completa desordem de sensações e sentidos. Esse foi o único jeito que consegui iniciar um texto para falar de V de vingança, do genial Alan Moore e seus parceiros David Lloyd, Steve Whitaker e Siobhan Dodds.

Escrita na década de oitenta, a narrativa é violenta, anarquista e reflexiva. É um grito anárquico e silencioso que, ao fim, deixa em cacos um sistema fascista e opressor construído à medida que suprime liberdades coletivas e, principalmente, individuais de uma sociedade apática e anestesiada por dois poderosos flagelos: ilusão e medo.

V, alcunha do protagonista, transita silenciosamente pelas entranhas do Partido, corroendo e destruindo-o aos poucos. Sua face é ocultada por uma máscara, deixando subentender que qualquer um pode ser V. Qualquer um pode levantar-se contra a injustiça e lutar para destruí-la. Seja homem ou mulher, branco, negro, pobre, rico, minorias...

Ou ainda, e mais simbolicamente, o indivíduo ou o coletivo, TODOS podem e devem rebelar-se contra qualquer poder tirânico. Basta abrir os olhos e perceber-se  vítima, preso aos grilhões e correntes dessa grande gaiola que é a vida. Essa talvez seja a mensagem de V de vingança.

V é anarquia. É a possibilidade de nós mesmos regermos nossos futuros. E é isso que Evey aprende com o enigmático mascarado. Quando ela passa a compreender isso, é interessante notar que seu nome passa a ser grafado EVE até o final da trama. Ou seja, tudo é V, e enfim a personagem amadurece e acorda para uma nova realidade: a de transformar seu mundo.

É ela agora que personifica a ideia que é V - daí a sua imortalidade, pois as ideias, quando concebidas, não morrem mais.

Em V de vingança,  a ausência do recurso onomatopeia a torna ainda mais silenciosa. Silenciosa, mas não muda! E é o silêncio imposto por fascistas que ora ou outra estoura em rugido e violência no corpo da massa, que o destrói completa e furiosamente no afã de liberdade.



quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Instante

Pixado, 
no muro, 
a cinzenta verdade:
"Somos instantes".
O poeta urbano, 
calejado do dia a dia,
suspira profundamente 
e desabafa:
"somos instantes".
Instante fugaz de felicidade,
de certezas
de esperança
diante da vida.
Segundos de uma eternidade universal
pertencente apenas aos astros 
e ao brilho prateado das estrelas.
Indivíduos transitórios,
passageiros efêmeros
que arranham 
desesperados
a existência débil 
que se insinua
sarcástica 
a toda a gente.
Relâmpago de vida,
de amor,
que cai sabe-se lá onde
e faz-se escuridão
para sempre.
                       (11-07-2012)

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Jardins do mundo

Considero-me bela e sou, inegavelmente, vasta. Assim como o são outras tantas como eu, espalhadas mundo afora. Isso apesar de pouco notada e relegada a um canto qualquer. Sou pobre, mas não miserável. E um tanto quanto melancólica (não triste ou depressiva!). Mas isso, quem não o é?... Entretanto, sou perpassada por ímpetos furiosos de alegria e contentamento, principalmente quando o riso simples da vida passeia por mim.

Ainda que tomada de pobreza e abandono, abrigo em mim, em meu seio farto, um montão de gente. E as pessoas parecem gostar, sinceramente, de mim. Preenchem meus limites e me atravessam com uma porção de desejos e anseios. Plantam seus sonhos e esperanças em mim e eu, paciente e profundamente tocada, os vejo crescerem. E mesmo que muitos venham a perecer, eles, ainda assim, melhoram o meu solo e me preparam para ir recebendo sempre mais um pouco. Pois quem mora comigo nunca deixa de sonhar mundos melhores... porque sabe que somos fortes e, a bem da verdade, movemos e edificamos possíveis futuros...

Sou, sim, um grande abrigo de todo mundo. E gosto mesmo é da alegria causada pelos esperançosos que me habitam. Que caminham pelas vastidões do meu corpo sempre em repouso, observando horizontes, queimando ao sol, ou sob o manto escuro de estrelas. 

Gosto das cócegas que fazem em minha pele, incessantemente. Gosto dos sonhos construídos, diariamente, sobre mim. Das brincadeiras, das lágrimas, das alegrias. Do barulho constante, dos gritos e dos risos, do vai e vem quase caótico dessa torrente infindável de gente dentro de mim. Todos exalando vida e movimento intermináveis. Todos fazendo com que eu, e as outras tantas iguais a mim, viva - como realmente devem viver todas as cidades das periferias do mundo.

E nos cantos e fundos de quintais do planeta, em favelas e comunidades, em morros marginais estamos nós. Belas, vastas. Grandes e diferentes jardins. Escondidos e abandonados jardins de beleza, vida e diversidade. Tomados por flores que, desvairada e aleatoriamente, vão se emaranhando, se misturando e se confundindo com a própria existência.