quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

V de anarquia

"A anarquia deve abraçar o estrondo das bombas e canhões.../...Todavia, deve amar ainda mais a doce música." (V)



É impressionante a força da arte. Arrebenta as portas da nossa mente, aos chutes, e invade bruscamente, deixando uma completa desordem de sensações e sentidos. Esse foi o único jeito que consegui iniciar um texto para falar de V de vingança, do genial Alan Moore e seus parceiros David Lloyd, Steve Whitaker e Siobhan Dodds.

Escrita na década de oitenta, a narrativa é violenta, anarquista e reflexiva. É um grito anárquico e silencioso que, ao fim, deixa em cacos um sistema fascista e opressor construído à medida que suprime liberdades coletivas e, principalmente, individuais de uma sociedade apática e anestesiada por dois poderosos flagelos: ilusão e medo.

V, alcunha do protagonista, transita silenciosamente pelas entranhas do Partido, corroendo e destruindo-o aos poucos. Sua face é ocultada por uma máscara, deixando subentender que qualquer um pode ser V. Qualquer um pode levantar-se contra a injustiça e lutar para destruí-la. Seja homem ou mulher, branco, negro, pobre, rico, minorias...

Ou ainda, e mais simbolicamente, o indivíduo ou o coletivo, TODOS podem e devem rebelar-se contra qualquer poder tirânico. Basta abrir os olhos e perceber-se  vítima, preso aos grilhões e correntes dessa grande gaiola que é a vida. Essa talvez seja a mensagem de V de vingança.

V é anarquia. É a possibilidade de nós mesmos regermos nossos futuros. E é isso que Evey aprende com o enigmático mascarado. Quando ela passa a compreender isso, é interessante notar que seu nome passa a ser grafado EVE até o final da trama. Ou seja, tudo é V, e enfim a personagem amadurece e acorda para uma nova realidade: a de transformar seu mundo.

É ela agora que personifica a ideia que é V - daí a sua imortalidade, pois as ideias, quando concebidas, não morrem mais.

Em V de vingança,  a ausência do recurso onomatopeia a torna ainda mais silenciosa. Silenciosa, mas não muda! E é o silêncio imposto por fascistas que ora ou outra estoura em rugido e violência no corpo da massa, que o destrói completa e furiosamente no afã de liberdade.



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