quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Alienação (?)

Agora:
a fome come com voracidade o vigor de milhares o suor escorre e corre das faces de um político qualquer prestes a ser preso por inúmeras "improbidades administrativas" outro grupo festeja um conluio secreto e sombrio que saqueia os cofres públicos a guerra passeia displicentemente pelos cantos do mundo novas armas são criadas testadas efetivadas vendidas doenças "surgem" por intermédio divino da grande indústria farmaceutica homens planejam a conquista do espaço vasto o universo ainda perturba por ser uma incógnita os fanáticos religiosos se autoexplodem por deuses jamais conhecidos inexistentes suicidas atiram-se de pontes prédios trilhos já não suportando a descoberta de múltiplas sufocantes realidades que nos são impostas toneladas de lixo e fumaça química são atiradas na lixeira caída ao chão dos céus e sorvidas em pequenas doses diárias por nossos pulmões de ferro árvores e animais e homens entram em extinção genocídios dizimam índios negros palestinos mendigos idosos o dinheiro compra honestidades cumplicidades lealdades vidas e mortes e tudo isso passa a ser natural e prende-se com viscosidade pegajosa nas teias das rotinas do nosso dia a dia nos fazendo coniventes passíveis apáticos pacíficos a consciência procura alienação 
Aqui e agora:
a mente abstém-se de tudo (?)
garimpando rios de linguagem
atrás de palavras (certas?)
e as incrusta neste inútil poema.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Olhando o mar

Da areia
olhávamos o mar
e a hipnótica formação
das incessantes ondas
sob a eterna noite -
que soprava um hálito
suave e úmido
em nossos rostos.

Agora navegávamos.
Em nós mesmos.
Envolvidos pela sinfonia
interminável
do marulhento deus-Mar.

(ela abrigada em si mesma
e eu encerrado em mim
e cada vez mais longe e profundo
navegávamos em nós)

Tempestades... e colossais ondas
arremetiam contra a f-r-a-g-i-l-i-d-a-d-e dos barcos
Vent
os furio... sos
os
açoit... avam
Re
    lâm
         pa
    gos
e
TRO... VÕES! castigavam-nos...
O mundo parecia não nos querer

E então naufragamos
no bravio mar-Interior -
profundo e violento de medo.
A força das ondas nos atirou
de volta à Praia.
Éramos embarcações salva-vidas um do outro:
Nossos olhos: faróis
Nossos abraços: âncoras
E nossos beijos: AR.

E dentro daquela noite
sobre a areia beijada pelas águas
nasceu um sol
à beira-mar.