Toda criação artística, por mais fantasiosa, insólita que possa parecer, está fundamentada direta ou indiretamente na nossa realidade, no nosso mundo real. Isso quer dizer que as artes em geral, e antes delas os artistas, nutrem-se deste para conceber seus mundos. Portanto, os mundos ficcionais são nada mais que aspirações, projeções ou, até mesmo, rejeições das nossas realidades.
Dito isso, resta impossível a apreciação estética, a contemplação de qualquer obra artística - literária, quadrinhística, cinematográfica, arquitetônica, pictórica etc. - sem conjecturarmos sobre o que nos cerca, sem traçarmos paralelos com nossas existências, com nossas realidades, enfim com nossas vivências. Repito: é impossível não estabelecer relações entre a arte que apreciamos e a realidade que conhecemos!
Assim posto, fica evidente a inviabilidade, a "ingenuidade" embebida em hipocrisia tendenciosa, a falácia de certos grupos que buscam esconder, ou mesmo expurgar o viés ideológico e político que, invariavelmente, mais ou menos explícito, trazem consigo as histórias em quadrinhos. Desde sempre, e em todos os gêneros no âmbito da Nona arte, é indissociável as realidades ficcionais das realidades político-ideológicas que emanam delas. Gibis infantis, juvenis, adultos, eróticos etc. são repletos de menções históricas, sociais, filosóficas, ideológicas e, também, políticas. São textos, como todos os outros, inseridos em contextos e dependentes destes.
Desde Angelo Agostini com As aventuras de Nhô-Quim, ou Impressões de uma viagem à Corte, de 1869, passando por Richard Outcault e seu Menino Amarelo, de meados do século XIX, bem como pelo escapismo proporcionado pelas histórias dos heróis e super-heróis do primeira metade do século XX, as HQs pensantes surgidas a partir da década de 50, a latina e mundialmente conhecida Mafalda, dos 60, as criações de Will Eisner, Frank Miller, Alan Moore, Larte, Angeli nos anos 70 e 80 (e ainda hoje!), o terrorismo e as aflições de refugiados e sobreviventes de guerras abordados nos quadrinhos dos anos 90 e 2000... Tudo criação indiscutivelmente marcadas e pautadas ideológica e politicamente. E como negar, esconder ou querer deturpar ou destruir isso?
Como não enxergar, ou querer apagar o fato de que as HQs Disney disseminam, ainda hoje, o modo de viver americano, seu individualismo e seu ideal capitalista? Ou que presentes nas aventuras do caubói Tex Willer, o mocinho dos gibis italianos e o queridinho de um público bastante conservador, estão a defesa das minorias negra e indígena, o apelo à justiça e à lei, o combate à xenofobia e a exaltação do viver pacífico entre índios, americanos, mexicanos...? Uma avalanche de ideias democráticas, progressistas e, até mesmo, rotuladas como pertencentes à esquerda política!
Como querer não abordar fatos como a exaltação da diversidade, vista na junção de personagens tão díspares e heterogêneos (étnica, racial e culturalmente) colocados pela fantasia de um fumetti como Dragonero, onde, na tentativa (utópica?) de mostrar que a união de elementos diferentes entre si talvez seja o caminho mais apropriado em direção a um mundo melhor e mais justo? Como não poder discutir o fato de que pouco conhecemos das produções quadrinhísticas russas ou alemãs, já que ainda somos colônia cultural dos EUA - o que, por si só, depende de posicionamentos ideológicos e políticos? Resta, pois, ignorar que nos comics de super-heróis, estes lutam pela paz mundial, mas que a paz almejada é baseada em concepções ocidentais? Então é fechar os olhos às charges e tiras que denunciam, dia a dia, os mandos e desmandos dos governos estabelecidos pelo mundo?
Em tempos como os de hoje, em que as bandeiras da intolerância, mediocridade, preconceito, irracionalidade e burrice (travestida de ingenuidade) são erguidas, resta mesmo fechar os olhos da razão e do senso de criticidade para o fato de que os quadrinhos, bem como qualquer criação artística e cultural, são indagações e também respostas às discussões que ocorrem em nossas sociedades. Resta-nos esquecer que tudo é atravessado ideologicamente e que em toda concepção ideológica há ideais políticos (inclusivos, excludentes, anárquicos, destrutivos etc.) e que, portanto, nada é isento ou neutro politicamente - como querem e bradam alguns.
Querem, pois, que não vejamos que, por trás desses posicionamentos de "Quadrinhos sem política", "Arte apolítica" etc., agentes sabem exatamente sobre o que foi apontado até aqui e o quanto isso é perigoso - pensar, pra eles, é um ato perigoso - e, justamente por isso argumentam, falaciosamente, o contrário. Estes, sem dúvida, agem assim pois defendem ideologias e políticas conservadoras e retrógradas, até mesmo excludentes e/ou autoritárias - e são apenas ESSAS que, hipocritamente, eles querem ver em seus quadrinhos! Tudo o mais é ameaça: nunca deve ser exposto, avaliado, discutido; mas tão somente deturpado e, sumariamente, destruído.
Desde Angelo Agostini com As aventuras de Nhô-Quim, ou Impressões de uma viagem à Corte, de 1869, passando por Richard Outcault e seu Menino Amarelo, de meados do século XIX, bem como pelo escapismo proporcionado pelas histórias dos heróis e super-heróis do primeira metade do século XX, as HQs pensantes surgidas a partir da década de 50, a latina e mundialmente conhecida Mafalda, dos 60, as criações de Will Eisner, Frank Miller, Alan Moore, Larte, Angeli nos anos 70 e 80 (e ainda hoje!), o terrorismo e as aflições de refugiados e sobreviventes de guerras abordados nos quadrinhos dos anos 90 e 2000... Tudo criação indiscutivelmente marcadas e pautadas ideológica e politicamente. E como negar, esconder ou querer deturpar ou destruir isso?
Como não enxergar, ou querer apagar o fato de que as HQs Disney disseminam, ainda hoje, o modo de viver americano, seu individualismo e seu ideal capitalista? Ou que presentes nas aventuras do caubói Tex Willer, o mocinho dos gibis italianos e o queridinho de um público bastante conservador, estão a defesa das minorias negra e indígena, o apelo à justiça e à lei, o combate à xenofobia e a exaltação do viver pacífico entre índios, americanos, mexicanos...? Uma avalanche de ideias democráticas, progressistas e, até mesmo, rotuladas como pertencentes à esquerda política!
Como querer não abordar fatos como a exaltação da diversidade, vista na junção de personagens tão díspares e heterogêneos (étnica, racial e culturalmente) colocados pela fantasia de um fumetti como Dragonero, onde, na tentativa (utópica?) de mostrar que a união de elementos diferentes entre si talvez seja o caminho mais apropriado em direção a um mundo melhor e mais justo? Como não poder discutir o fato de que pouco conhecemos das produções quadrinhísticas russas ou alemãs, já que ainda somos colônia cultural dos EUA - o que, por si só, depende de posicionamentos ideológicos e políticos? Resta, pois, ignorar que nos comics de super-heróis, estes lutam pela paz mundial, mas que a paz almejada é baseada em concepções ocidentais? Então é fechar os olhos às charges e tiras que denunciam, dia a dia, os mandos e desmandos dos governos estabelecidos pelo mundo?
Em tempos como os de hoje, em que as bandeiras da intolerância, mediocridade, preconceito, irracionalidade e burrice (travestida de ingenuidade) são erguidas, resta mesmo fechar os olhos da razão e do senso de criticidade para o fato de que os quadrinhos, bem como qualquer criação artística e cultural, são indagações e também respostas às discussões que ocorrem em nossas sociedades. Resta-nos esquecer que tudo é atravessado ideologicamente e que em toda concepção ideológica há ideais políticos (inclusivos, excludentes, anárquicos, destrutivos etc.) e que, portanto, nada é isento ou neutro politicamente - como querem e bradam alguns.
Querem, pois, que não vejamos que, por trás desses posicionamentos de "Quadrinhos sem política", "Arte apolítica" etc., agentes sabem exatamente sobre o que foi apontado até aqui e o quanto isso é perigoso - pensar, pra eles, é um ato perigoso - e, justamente por isso argumentam, falaciosamente, o contrário. Estes, sem dúvida, agem assim pois defendem ideologias e políticas conservadoras e retrógradas, até mesmo excludentes e/ou autoritárias - e são apenas ESSAS que, hipocritamente, eles querem ver em seus quadrinhos! Tudo o mais é ameaça: nunca deve ser exposto, avaliado, discutido; mas tão somente deturpado e, sumariamente, destruído.
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