quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Aventuras de uma criminóloga: um breve registro


Dentre as várias histórias interessantes que li nos últimos dias, destaco Como duas fúrias, de G. Berardi e L. Calza, e desenhada por Roberto Zaghi. Faz parte da edição 137 de J. Kendall - Aventuras de uma criminóloga (Editora Mythos, 2018). É simples, atual, tocante e bastante contundente.

Conta sobre dois jovens cheios de problemas pessoais e sem perspectivas quanto a algum futuro. Ambos são pobres, oriundos de lares desestruturados e buscam no mundo do crime um modo de dar vazão às suas frustrações. Como ocorre cotidianamente com milhares de jovens das periferias do mundo.

A trama nos faz refletir sobre nossa própria realidade, nos mostrando como a desigualdade social é o grande mal das sociedades. Nos faz pensar em como a falta de cultura e a desesperança no porvir influenciam, decisivamente, nossas vidas. E mais: como o discurso meritocrático, que subjaz à narrativa, é falacioso.

E, principalmente, nos abre os olhos para o fato de que, muitas vezes, é preciso enxergar toda a narrativa que leva alguém a cometer algum tipo de crime já que, segundo a criminóloga Júlia Kendall, "a violência nunca é um gesto repentino, é um percurso que vem de longe." Isso não para perdoarmos os criminosos, mas para entendê-los e, assim, criarmos meios de evitar que tudo isso continue a ocorrer.

Assim, tal como as Fúrias da mitologia, as duas personagens personificam a vingança. Uma vingança contra um mundo cinza, que não lhes oferece oportunidades. Um mundo tal como o nosso: violento, cru e extremamente desigual, que nos oprime contra a parede e nos força a diárias atrocidades.


P. S.: Imagem retirada do site da Editora Mythos.


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